Amor, arte e retrato

A arte de Amar é retratar 


amar - Pesquisar Imagens


Amor, o sentimento universal. Toda poesia fala, em seu âmago, de uma forma de
amar, toda arte é uma profusão de coisa humana, ato humano elementar, toda arte é um retrato de uma das faces representadas do objeto amado, do objeto desejado;

E se, entre tanto amor, tanto antes e por tantas vezes se explicou, tantas tentativas de explicar: o que é amor?

Muitos poemas buscam essa explicação, se eu lê-se todos talvez eu tivesse cada parte que o forma e contêm, mas sem nunca o ter totalmente.

Carlos Lana, em seus poemas, nos trás a ideia do retrato, a ideia do amor como além da concepção abstrata de sentimento, mas a materialidade que o transforma de potência de amar em ato: o ato de retratar. Por sua vez o ato mais singelo da humanidade, o ato de amar. 


Poema - Poliretratar é amor ao verbo


Se veste de coisa minha
E eu lido assim, sabendo ser
Coisa de toda gente 

O poliretrato
— Que me faz se sentir especial 
Especialmente eu, tão meu
Seu eu retratado, amado
E no amar me torno
Do que nada sou e não posso
Nada ser
Sem ser visto em relação 
Ao teu retrato.

No ressoar de cada cantar
Mesmo entre os mais diferentes 
Imagina que bela visão, como jamais seria
vazando do sublime surrealista
Em garranchos de mãos-garganta
E pescoço-mãos vazando do torso
Se cumprimentando 

Na camaradagem do desencanto
É trágico o desenlace cômico
Onde se parabeniza 
A garganta num toque apertado
De dizer que cumpriu bem o seu trabalho 
Que foi magnífica!

E o dono da garganta
Fica de mão apertada!
pergunta-se porque foi ela 
A parabenizada!
— E eu acaso sou lá da telepatia?
A mente que canta cala a voz
Rouca e bruta da decepção

O retrato é perfeição imperfeita 
Por colocar ao material opaco
E chato a matéria da visão apaixonada
A visão do amor amado
No papel é rocha em flor
Torna pele em chama 
Faz derreter beijos 
E gente vira uma massa
De arrepios
De arrepiados!

O retrato é o momento unificado
De todos os momentos
Presentes e passados
Imprensados.
E retrato só é retrato pelo ato de retratar
Por que de tudo, isso mais do que muito
É tudo da arte de amar

Imagina, mais ainda imagina
A bela cena que se desenrola ao fundo
O sentimento retratado é mais profundo 
Ao não se aprofundar.

É voz de condão fazendo estrelas
Fazendo-me amar ouvir
Até mesmo o ruído e o escárnio
 
Mãos se derramando como magma
Que me fazem amar sentir 
O frio e o seu dorido laço

O abraço das cobertas de algodão 
Que me fez amar até mesmo o
Medo do escuro

O olhar de coração que pulsa
No ato singelo de apreço pelo mundo
Cada dia um pouco mais.

Na matéria da música
O essencial orbita quem ouve
Mesmo que sem cantor não haja música
Depois do espetáculo, imagina
O musicista descia e aplaudia
Quem chorava, por saber chorar
Aplaudido de volta por saber mostrar
O lugar de onde se sente

E se amar é aceitar
Que só posso ter o seu retrato
Preso na minha retina,
Orando que não se apague 
É de certo que eu me apegue
Por mais certo meu desejo
De amar cada pedaço 
Cada pedaço que desconheço 

E toda gente a volta ama
Mas não tem voz de amante
Encontra no verso a verdade 
Do sentimento ensinado
Que eu coreografo 
No improviso desesperado
E se encontra no verso
O que sente e não faz
Que não sabia poder dizer
Canta, canta alto como se 
Fossem cartas de amor
E como são

O retrato é amor
E seja onde estiver
Esteja onde for
O amor maior é o amor de retratar
E fazer dispontar louvor
No peito do sabiá 
Que se dormia descansou
Voa de lá pra cá 
Bicando o peito 
Do homem da terra
Procurando jeito
De fazer parar de pulsar
Parecendo cuco
Contando o tempo

Carlos Lana



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